O Hobbit - A Desolação de Smaug | Crítica
Em partes, O Hobbit – A Desolação de Smaug está sendo muito mais bem aceito pela crítica do que Uma Jornada Inesperada, o primeiro filme da trilogia, as razões para tal eu ainda desconheço, pois o filme tem os mesmos problemas que o anterior... e só para constar, eu amei cada segundo desses “problemas” no primeiro filme e amei ainda mais no segundo, de fato, eu mal posso esperar para ver a versão estendida desse filme.
O maior problema do primeiro O Hobbit, disseram aqueles que não gostaram, foi a total e completa falta de ritmo que o filme tinha, coisa que não foi tão melhorada assim nesse segundo, embora o problema esteja mais disfarçado e diluído, pois a jornada já está iniciada e tudo já está acontecendo, não há a necessidade de 43 minutos de introdução para Bilbo finalmente gritar que está indo para uma aventura, mas há por outro lado a casa de Beorn, onde nada acontece e eu prevejo a fúria dos Tolkinianos, mas o personagem nada mais é do que uma vírgula e uma nota de rodapé no filme, sua participação é a única cena em todo o longa que poderia ter sido completamente excluída e nada no tom da história mudaria, já que ele mal movimenta a trama e não faz parte dela.
Acredito que eu tenha mencionado isso na crítica do primeiro filme, mas se eu gostei tanto do primeiro filme foi porque eu amo fantasia e todo o universo de Tolkien, amo O Senhor dos Anéis e não me importo em ver 40 minutos de conversas sobre a Terra Média e cantoria, pelo contrario, para mim poderiam ser mais minutos assim. Nesse filme a sensação é a mesma, se você não gostou de Uma Jornada Inesperada, talvez você ainda não goste de A Desolação de Smaug, mas acho que você deveria dar uma nova chance, é bem possível que a reação ao longa seja a mesma... mas se você gostou do primeiro, corra para os cinemas agora.
Uma das coisas que deixam esse A Desolação de Smaug um pouco melhor do que o primeiro é a adição de novos personagens, em especial Thranduil, Legolas (que não é novo, mas serve) e Tauriel. Há outros bons personagens pipocando na tela o tempo todo, Bard é um deles, alias, os filhos de Bard são simpáticos e potenciais ligações emocional com o público que já sabe quem vai ou não morrer por ler os livros, os filhos de Bard ainda são um mistério nesse quesito, mas ainda assim, os elfos são extraordinários, em especial Thranduil. A encarnação de Lee Pace como o rei elfo de Mirkwood é uma das melhores encarnações de todos os filmes de Jackson sobre a Terra Média, ele é realmente um grande personagem e quando ele mostra um certo detalhe sobre seu passado e sua luta contra dragões meu sentimento era de: “Por favor, pare a história mais uma vez porque eu quero saber tudo sobre isso”. Agora eu entendo o porque Tolkien sentia essa necessidade de parar em cada paragrafo para contar um pouquinho mais sobre tudo o que estava acontecendo, sobre uma estrada que Frodo cruzou, sobre uma árvore em que Gimli descansou, sobre uma arma que Aragorn tocou, algumas pausas são deliciosas de fazer, especialmente para alguém que como eu, é fã de história, fã de fantasia e fã do universo criado por Tolkien.
Vale constar que Lee Pace será o vilão Ronan, o Acusador de Os Guardiões da Galáxia, e depois de ver ele como Thranduil, essa é mais uma das coisas que me faz ficar ansioso para o filme espacial da Marvel.
Outra que se dá bem, em um grau menor, é Evangeline Lilly, como a elfa guerreira Tauriel, papel antes que era de linda Saoirse Ronan, apesar de eu achar Ronan naturalmente melhor que Lilly, o papel ficou perfeito para ela. Agora é curioso saber pra onde a personagem dela vai, porque em um primeiro momento ela parece ser um par romântico para Legolas, mas depois tudo indica que ela é um par romântico para outro personagem. Ao menos ela serve para ilustrar uma espécie de preconceito entre os elfos, já que Thranduil, apesar de admirá-la como guerreia, abomina a ideia dela se casar com Legolas, uma esperança que nosso velho e conhecido Elfo nutre.
Orlando Bloom continua o mesmo e isso é assustador, o cara não parece ter mudado nada, nem parece ter melhorado muito sua atuação. Legolas continua muito mais interessante por suas cenas de ação espetaculares, que continuam aqui, e por seu humor em companhia de Gimli, que bem... vocês vão ver.
O personagem Legolas por si só atraí espetáculos visuais, ele tem um jeito excessivamente estiloso de matar, de manejar a espada e de atirar suas flechas aparentemente infinitas. A cena dos barris é uma prova disso, ela é tão empolgante que deixa um sorriso no rosto quando termina.
A trama da saga O Hobbit, especialmente nesse filme e especialmente porque ele é um pouco mais acelerado, é muito fragmentada. Por exemplo, Beorn é um pequeno capitulo da história, depois o caminho pela Floresta das Trevas, onde Gandalf se separa dos anões é um novo capítulo, depois a prisão dos Anões no reino de Thranduil e por aí vai, mas um problema disso é que gera arcos muito óbvios e em certos arcos, talvez por eu já ter lido os livros, ou mesmo por já ter visto O Senhor dos Anéis, tudo soe previsível e onde deveria haver uma sensação de perigo só gera a sensação de “ok, em qual momento eles vão se livrar dessa”?
Essa sensação, porém não acontece no arco de Gandalf, a visita do Mago Cinzento em Dol Guldur é sensacional, apesar de curta, provavelmente se resumem a três cenas, mas a última delas faz tudo valer. O Encontro de Gandalf com o Necromante mostra como o mago é poderoso e como talvez isso não seja o suficiente para enfrentar Sauron, a forma como o embate foi traduzido em imagens é interessantíssimo, um escudo de luz bloqueando as sombras. Se eu não tivesse assistido O Senhor dos Anéis e não soubesse nada sobre Tolkien, eu realmente estaria preocupado com a saúde e bem estar do Gandalf nessa cena.
Relacionado: Crítica de O Hobbit - Uma Aventura Inesperada
Ainda na mesma cena com Gandalf, Peter Jackson mostra também que ainda continua cafona em momentos decisivos, assim como o CTRL + I na Galadriel no primeiro O Senhor dos Anéis é um efeito feio em um contexto lindo, a cena do Olho Repetido é de extremo mal gosto, e está dentro de uma cena sensacional.
Mas se Jackson erra uma vez ou outra a mão no visual, em todo o restante do filme ele acerta em cheio, mas é redundante elogiar aqui a produção do filme, obviamente não há nenhum filme no ano com uma direção de arte e maquiagem melhor que O Hobbit – A Desolação de Smaug, a fotografia dessa vez é um pouco questionável, talvez por ter ouvido muitas críticas de sua tentativa de fazer o primeiro filme mais épico do que devia (não sou eu quem está dizendo isso), usando ângulos mais abertos, nesse segundo ele evita isso usando closes em excesso, isso fica perceptível e irritante especialmente em momentos que um ângulo aberto faria bem as cenas, que são naturalmente mais escuras que as do primeiro filme.
Por falar em cenas escuras, o 3D piora um pouco essa escuridão, mas não dá para dizer que é completamente inútil, assim como o primeiro filme teve algumas cenas lindas potencializadas com a tecnologia, esse segundo também possui as suas, como por exemplo, as cenas entre Gandalf e o Necromante, que ficam maravilhosas em 3D, fazendo você perceber que dentro do escuto de Gandalf há espaço a ser preenchido.
Antes de falar do que todos querem saber, vale dizer que a trilha sonora, assim como todos os outros valores de produção, está impecável, um sério material para o Oscar considerar em 2014.
Agora, vamos tirar o Elefante Branco da sala, ou tirar o Dragão Dourado de Erebor, se preferir.
As pessoas mais polarizadas e impressionáveis (as mesmas que dizem coisas como “Homem de Ferro 3 é o melhor filme da Marvel” depois de assistir o filme e muda 100% o discurso depois que pensa sobre ele) podem acabar dizendo coisas como “Smaug é a melhor criatura em CGI já criada”, sim eu já li isso por aí e isso é uma bela besteira, o Smaug mostrado de relance no último segundo do primeiro filme era péssimo e por mais que o dragão tenha sido muito melhorado para esse filme, continua imperfeito e até um pouco desengonçado. Se for para falar de criaturas CGI nem precisamos ir tão longe, o King-Kong de Jackson e o próprio Smeagol/Gollum são melhores, o Caesar de Planeta dos Macacos – A Origem também, só para dar exemplos mais óbvios.
Mas além disso, todo o final do terceiro arco, que envolve o dragão acaba sendo um pouco enrolado, a interação entre Smaug e Bilbo é sensacional, especialmente quando Bilbo está se dando títulos, mas quando os anões entram acaba virando um pouco de correria sem sentido, cheia de planos mirabolantes e confuso, mas que resultam em outra cena visualmente impressionante, o Dragão Dourado...
Contudo eu ainda não sei o que pensar de um Dragão Lorde Inglês, porque por mais que Benedict “Sherlock” Cumberbatch se esforce e faça uma voz realmente imponente e interessante, ainda assim... é um Dragão falando com sotaque inglês e muita eloquência, um dragão. Apesar do Necromante ter bem menos falas no filme, Cumberbatch fica bem melhor como ele.
A forma que o filme termina também é um pouco estranha, basicamente no meio da ação, mas não, não vou te contar, além disso, a única coisa que você pode esperar é ficar extremamente ansioso por mais um ano, para ver o final de tudo isso com O Hobbit – Lá e de volta Outra Vez. Ainda que isso seja interessantíssimo, deixar o público aguardando o filme, isso colabora para deixar ainda mais parecido com um episódio fragmentado de uma série e não com um filme, ainda assim, apesar de um terceiro ato meio desbalanceado e uma estrutura excessivamente fragmentada, isso mal arranha todo o brilho que O Hobbit – A Desolação de Smaug tem.