Panorama do cinema nacional em 2013

No último Festival do Rio o futuro do cinema nacional foi discutido, como sempre, a formação de uma indústria, a regulamentação de formatos e toda sorte de aspectos técnicos fizeram parte das pautas de debates, interessantíssimos por sinal. Contudo nesses debates, pude perceber que os nomes que lideram a indústria nacional são um pouco semelhante quanto a mentalidade aos nomes que lideram Hollywood, quanto ao que dá dinheiro e o que é comercial.


Obviamente o comercial daqui jamais seria o comercial de lá, pois os custos de produção são ridiculamente diferentes, praticamente polarizados, mas a lógica da “tendência de tendências” é a mesma.


Recordo-me das frases “Comedia Adulta é o que vende por aqui” e “Filmes com temas nacionais vendem tão bem quanto”, ao ponto que também foi dito que a época dos “filmes de favela” já tinha passado.


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Ao estudar um pouco melhor o cronograma do cinema nacional em 2013 eu surpreendentemente me deparo com um retrato de distribuição idêntico ao template “proposto” nos debates. Vamos analisar juntos o panorama de distribuição do ano.


A partir da próxima sexta-feira até o fim de dezembro, teremos exatamente 50 filmes nacionais a serem lançados, com circuito nacional ou limitado, pelo menos os já confirmados. Deles, 19 são dramas, em sua maioria com orçamento extremamente baixo e 17 são comédias, em sua maioria comedias adultas, com teor sexual. Ainda, dos 50 filmes, 11 são sobre Brasileiros Importantes ou sobre Temática Nacional forte seja ela Histórica, Geográfica ou Contemporânea.


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Vamos combinar que isso não é mais um acaso, o cinema nacional já formou aí um gênero que eu costumo chamar de “auto-homenagem” mesmo que nem sempre o retrato do Brasil (ou dos Brasileiros) desses filmes sejam lisonjeiros, sempre dão um valor enorme para si mesmos, por isso a “homenagem”.


Apenas 3 filmes são infantis ou de animação e há apenas 2 filmes de gênero na lista, com gênero eu quero dizer Aventura/Ação ou Suspense, sendo que um desses dois é baseado em uma música.


Dos 50, 9 são documentários com pouca expressão comercial. Mas agora vem a melhor parte, 1 dos filmes nacionais do ano é um Spin-Off de uma novela da globo.

O nome, claro, é “Indústria do Cinema”, portanto, a visão de uma indústria é gerar lucro, assim como a Indústria de Hollywood que faz Transformers, Velozes e Furiosos, Jogos Mortais e Crepúsculos da vida com o único intuito de ganhar dinheiro. Não vou dizer, portanto, que a jogada da nossa indústria é errada, afinal, não está errada mesmo ela cresce cada vez mais, todo ano temos grandes filmes lançados financeiramente falando e um ou outro artisticamente, mas será que talvez e só talvez não esteja na hora de darmos um passo maior e de arriscarmos mais, quem sabe fazendo filmes de suspense, de ação ou thrillers politicos, esses dois últimos deram muito certo na forma de Tropa de Elite 1 (filme de ação) e Tropa de Elite 2 (thriller politico). Quem sabe um terror que não seja Zé do Caixão, não é o meu gênero favorito, mas é rentável e melhor, é diferente do nosso Status Quo.


Acredito que a fome por crescimento somada à acomodação do mercado é, ao lado da total subestimação da inteligência e capacidade do publico, que por consequência é o povo brasileiro, quem impede um crescimento real do mercado nacional de cinema. Claro que a falta de recursos, de interesse, de incentivo ajuda a estagnação no obvio, mas não falo de cineastas independente tentando reinventar a indústria (mas não estou dizendo que é impossível também, veja 2 Coelhos) estou falando das nossas grandes produtoras, que podem facilmente fazer e arriscar mais.


A Argentina faz grandes dramas, a França produz obras geniais todo ano, recentemente até quebrando records de publico, até a Rússia já chamou atenção fazendo fantasia e revelando nomes do gênero, até quando que nós vamos ficar fazendo Comedias Apimentadas, Dramas de baixo orçamento e filme de auto-homenagem esperando surgir vez ou outra uma obra mais significante do Meirelles, Salles, do Selton Mello e de alguns outros poucos que fazem a diferença no mercado?


Não que não tenha nenhum filme do tipo esse ano, o próprio A Busca, Faroeste Caboclo e mais uns outros 2 que serão lançados esse ano são a primeira vista extremamente interessantes, só precisamos de mais como esses.


Essa é só uma ideia, vocês concordam? Discordam? Vamos debate-la melhor nos comentários!

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