A Hora Mais Escura | Crítica

Comentários do tipo “Jessica Chastain é mais uma invenção de Hollywood” e “Jeremy Renner é uma grande descoberta da sétima arte” sempre me surpreendem pelo absurdo que afirmam.


O que os dois tem em comum? Ambos ganharam notoriedade máxima em um filme de Kathryn Bigelow e a diferença é que Renner realmente foi forçado goela abaixo no publico até que simpatizássemos com ele. O cara não tem um pingo de carisma e talvez seja por causa dele que eu não tenha gostado The Hurt Locker, embora ele seja o Gavião Arqueiro e está tudo bem agora. Diferente dos comentários negativos sobre Jessica Chastain que são absurdos, já que a moça é de longe a melhor coisa do superestimado Árvore da Vida de Terrence Malick e a melhor coisa de A Hora mais Escura também.


Chastain que levou o Globo de Ouro de Melhor Atriz em Filme de Drama pelo papel é uma enorme força motriz para A Hora mais Escura. A atriz consegue ser suficientemente convincente no papel de mulher forte, consegue ser cheia de qualidades e de defeitos transparecendo todos por igual, mas assim como na vida, nenhuma dessas qualidades ou defeitos são exacerbados. Tudo está em seu devido lugar até mesmo o ego estrondoso de Maya, sua personagem. Para uma atriz manter uma personagem que sente a necessidade de dizer “Eu sou a filha da puta que descobriu esse lugar!” quando perguntada sobre quem era, sem tender para o overacting ela fez um ótimo trabalho.


Maya é baseada em dois agentes da CIA, uma composição de ambos por assim dizer. A ruiva Alfreda Frances Bikowsky e Michael Anne Casey, que fizeram basicamente o mesmo trabalho da personagem de Chastain, só que na vida real. Não saberia dizer se a atriz fez bem essa composição, mas isolando o conhecimento ou ignorância desse fato, que é irrelevante para se assistir o filme, o trabalho dela é tão bom, que eu quase torço para ela em detrimento de Jennifer Lawrence nesse Oscar, eu disse QUASE!


Não conseguiria dizer, porém, que gosto de Kathryn Bigelow, achei Guerra ao Terror um filme medíocre de uma interpretação medíocre e de uma direção ainda mais medíocre, na minha opinião foi o pior filme a ter ganhado um Oscar em muitos anos e isso se refletiu na bilheteria, se não for a pior bilheteria de um vencedor do Oscar de todos os tempo, com certeza esta entre as 3 piores. E por mais que eu tenha no final amado A Hora mais Escura, vale dizer que o filme só tem a força que tem por uma mãozinha da vida real.


Quando Bigelow e Mark Boal começaram a trabalhar tanto no roteiro quanto na pré-produção do filme, a ideia era que o filme seria sobre a falha na captura de Bin Laden, porém o filme foi atrasado já que dias antes de começarem as filmagens, Bin Laden foi morto. Como sabemos esse foi um momento de gloria para a nação americana e Bigelow não podia ignorar isso.


O filme gerou um bocado de controvérsia e polêmica, que vem mudado a opinião da crítica a todo o momento. De acordo com a CIA o roteiro de Mark Boal que supostamente é baseado em fatos reais é absurdo, oficialmente a captura e morte de Osama Bin Laden não se baseou em torturas. O filme, entretanto foca sua maior parte nisso, como se a tortura fosse a força motriz de toda a busca.


Agora se você acredita na CIA dizendo que a Inteligência e Espionagem da agencia que levou a descoberta do local no Paquistão onde Bin Laden se escondia ou se você acredita que foi a tortura de prisioneiros que levou a tal é uma opinião sua, já que tanto pode ser sensacionalismo de Boal ou pode ser apenas a CIA tentando esconder o obvio. Mas uma coisa é certa o filme NÃO É PRO-TORTURA, como alguns estão tentando pintar, em nenhum momento Bigelow diz que a tortura é um mal caminho para um bom fim, tudo em A Hora mais Escura parece exatamente o que é... alguém retratando um fato. Ou que não seja um fato, como a CIA diz que não é, mas alguém contando uma história, sem julgar nem condenar ou glorificar o que os personagens dessa história fazem.


De fato é interessante ver que rolou tanta histeria com o filme, quando séries como 24 Horas mostravam tipos de torturas ainda piores. Depois da declaração anti-tortura de Obama, que é mostrada no filme, as torturas físicas acabaram e entraram as psicológicas, mais ou menos as mesmas usadas no aclamado seriado Homeland, será que isso não é um ponto para os EUA que o filme esta dando? Afinal, se Obama prometeu o fim da tortura e a tortura realmente parece ter acabado (parcialmente) isso mostra, no filme pelo menos, que o governo foi realmente honesto quanto a esse assunto. Não creio que os críticos ferrenhos do filme tenham olhado por esse ângulo.


De qualquer forma talvez o erro do filme e especialmente de Boal que tem as fontes de seu texto secretas como todo bom jornalista foi ter chamado de “baseado em fatos reais”. Dos filmes que concorrem ao Oscar, A Hora Mais Escura é de longe o mais completo e seria o mais forte candidato ao Oscar 2013, se não fosse as influencias dessas polemicas absurdas. As evidencias dizem que ele não vai ganhar esse premio. Enquanto Lincoln e Argo, dois filmes que variam de médio a bom tem a grande chance, ao menos se O Lado bom da Vida ou Django Livre ganhassem já seria o satisfatório.


Mas voltando a crítica, por si, não há quase nada há se falar de negativo ao filme, talvez a vontade de Bigelow em “chatilizar” (palavra inventada por mim para representar a vontade da diretora em deixar tudo monótono) tudo, parece as vezes que Bigelow confunde profundidade e relevância com chatice, mas ela faz isso muito menos aqui do que fez em Guerra ao Terror, na verdade sua história em A Hora mais Escura é tão forte que nem se ela quisesse ela conseguiria tal coisa.


A trilha sonora do filme serve bem ao seu proposito e a fotografia é muito bem pensada, as cores desérticas combinam muito bem tanto com os lugares quanto com os personagens retratados. Assim como os desertos por onde eles vagam em seus trabalhos no meio oriente, eles carecem de vida e de verde.


O elenco secundário de luxo é exatamente isso, secundário, mal se pode dizer que existe um coadjuvante nesse filme, já que Chastain engole cada cena e os personagens tem tão pouco tempo em tela que fica difícil nos ligarmos a eles. Talvez o torturador vivido por Joel Edgerton é o único que ganhe um pouco de nossa simpatia, se é que podemos simpatizar com um torturador. Podemos? Ele é o trabalho dele? Decidam nos comentários.


Enfim, é difícil elogiar mais do que o padrão os aspectos gerais do filme, já que o único ponto fora da curva é a atuação de Chastain e o único abaixo e a forma burocrática que Bigelow tenta dar a história, todo o resto está funcionando e perfeitamente encaixado em seu lugar.


Li varias críticas negativas e medianas falando que A Hora mais Escura é Homeland, mas sem bons personagens e sem um bom roteiro. Concordo que o roteiro e os personagens de Homeland são melhores e mais profundos, mas apenas ser possível comparar um filme de 2 horas com algo tão complexo e completo como Homeland já é mais do que o suficiente para dizer que A Hora mais Escura foi um dos melhores filmes de 2012.


Por fim, eu diria que A Hora mais Escura é para os cinemas algo semelhante ao que A Sangue Frio de Capote é para literatura. Um olhar delicado, porém impiedoso que mistura jornalismo e arte pressionando uma ferida americana. Contudo Capote tem muito mais talento para contar sua história.


Enquanto o The Guardian tentou provocar ainda mais polemica em sua matéria cínica sobre o filme, eu jurava que estava lendo algum veiculo da Newscorp, (ou uma crítica minha sobre a "Saga" Crepúsculo : ) tamanho é a parcialidade e “violência crítica” com que o jornal tratou o filme. Parte da matéria diz que ele é bobo e cartunesco, o que claramente não é. E ainda diz que Kathryn Bigelow é fetichista e sádica. Uma pena ler esse tipo de coisa de um veículo tão influente sobre um filme tão forte, ainda que com seus problemas. No Eden Pop pelo menos eu alivio o lado da ex-esposa de James Cameron e digo que ela só é uma pessoa com uma visão muito chata e pobre, contando histórias que são maiores do que suas capacidades de contadora de histórias... se é que isso é aliviar.


Veja o último e lindo trailer do filme:


Patreon de O Vértice