A Viagem | Crítica

(A Crítica abaixo contém spoilers do filme)


O título A Viagem, nacional é claro é terrível, mas o título original não é também dos melhores e não é por aí que param os defeitos do novo longa dos irmãos Wachowski. As maquiagens são as piores já vista nos cinemas desde As Branquelas e os efeitos em Chroma Key são tão gritantes que parecem terem sido feitas por um Vlogger de 14 anos do Youtube.


Mas nem tudo é ruim em A Viagem… nem tudo, mas estou aqui com dificuldade tentando pensar os motivos que não me fizeram sair no meio da sessão, do filme mais longo do ano, digo isso porque apesar de ele ter só um pouco mais de 2 horas e 40 parece que ele durou 8 horas. Talvez o único motivo de assistir A Viagem até o final seja a história que é realmente intrigante.


O filme conta seis histórias distintas em épocas diferentes, Escravatura, Amor Homossexual, Indústria do Petróleo, Velhinhos Fugindo de Asilos, Cyberpunk com uma revolução comandada por uma garçonete feita em uma fabrica e um pós-apocalíptico que não se sabe exatamente há quanto tempo se passa.


As tramas do filme, em quase todos os seis segmentos são boas, exceto talvez no pós-apocalíptico, que toda hora parece que vai nos mostrar algo além do mediano, mas acaba nos frustrando por estar lá só para ser um ponto de junção e para encher um espaço a mais na obra.


Quando descobrimos o “grande segredo” de A Viagem uma frustração toma conta da gente, pois o que une as histórias nada mais é do que um conceito, que permanece em todas, isso se desligando nas cargas “Karmicas” que os 3 diretores tentam encaixar nos detalhes. E ignorando alguns personagens constantes que estão praticamente como figurantes nas histórias em que não são protagonistas. O que liga as histórias é só uma filosofia e uma ideia, alias, Jim Broadbent deu a dica no meio do filme.


“Liberdade, a grande cantiga de nossa civilização”


A Viagem


E de uma forma ou de outra, tudo acaba se baseando na liberdade.


E já que falamos de Jim Broadbent, devo dizer que além dele apenas Ben Whishaw demonstra qualquer tato em sua atuação. Que os irmãos Wachowski não eram grandes diretores de atores eu já sabia, mas que Tom Tykwer tinha a mesma inabilidade foi surpreendente.


Tom Hanks e Halle Berry em especial estão terríveis, absurdamente terríveis em seus vários papeis. Alias, essa ideia de cada personagem ter vários papeis nos filmes foi a coisa mais idiota da história recente do cinema desde que alguém disse “Sabe, acho que deveríamos adaptar Crepúsculo”.


As maquiagens que os atores usam para se esconder em outros papeis são tão absurdamente mal feitas que tiram qualquer imersão que o filme poderia ter. Quando vemos Hugo Weaving vestido de mulher e tentando nos convencer de que é uma mulher, a vontade que temos é de rir enlouquecidamente tão ridícula é a situação, embora esse segmento seja de comedia, o segmento onde o próprio Weaving aparece como um asiático cuja a cabeça parece ter uns 5 centímetros a mais de espessura… gargalhadas novamente e dessa vez ele estava tentando ser sério. Os Wachowski com certeza podem ser cotados para dirigir o próximo filme de Eddie Murphy, tão ruim foi o trabalho deles e a ideia deles nesse ponto. Quando alguém no filme está usando essas maquiagens exageradas fica tão convincente de que é um humano quanto um Teletubbies te convenceria do mesmo.


Mas Weaving sempre é bom, não importa o quão ridículo ele esteja parecendo fisicamente. Contudo é Ben Whishaw, no seu segmento como protagonista, quem rouba a cena e dá o título do filme. Cloud Atlas é a musica que ele compõe e que se você fingir que acredita, ela liga todas as 6 histórias, nunca diretamente é claro, mas talvez no sentido mais próximo da Teoria do Caos.


A Viagem


A intenção dos Wachowski, contudo, era boa com esse filme, tem cenas maravilhosas e algumas coisas muito bem filmadas, como o acidente de carro no segmento onde a Halle Berry parece um ser humano ou na cena da perseguição nas vias futurísticas do segmento CyberPunk ou até mesmo o sonho do personagem de Ben Whishaw (sendo um humano) com as louças e pratos se quebrando e principalmente no segmento de Jim Broadbent, onde um escritor interage de maneira peculiar com um crítico literário.


A ideia geral do filme também é ótima, toda a ideia de uma filosofia conectar todas as histórias que atravessam eras (novamente ignorando o Karma embutido porque não faz sentido algum), mas como sempre os 2 diretores, nesse caso 3, tenderam ao exagero, exagero visual, exagero narrativo, exagero poético, exagero de auto importância.


Para não dizer que tudo dentro do comando dos diretores foi ruim, eu tenho que elogiar e muito a montagem do filme. Simplesmente espetacular, juntando cenas de diferentes segmentos umas nas outras, como se você trocasse de canal e uma coisa continuasse no canal seguinte, mesmo sendo um programa completamente diferente. Sons intercalando histórias, narrações de um futuro pós-apocalíptico sendo feita enquanto um jovem compositor escreve uma obra prima da musica, essa musica sendo tocada anos depois enquanto uma jornalista investiga uma empresa de petróleo e coisas do tipo fazem a montagem ser a principal força do filme.


Mesmo porque é a montagem faz com que você pense que realmente há um grande segredo a ser descoberto, ou que você precisa ficar atento que em certa hora tudo se conectará, portanto é a montagem que faz valer a experiência desse filme em particular.


Infelizmente os elogios param por aí, mas eu queria muito ver o que um Christopher Nolan, David Fincher ou pelo menos um diretor mais competente teria feito com esse projeto.


Se tem uma coisa que fica clara após ver Cloud Atlas é que mesmo com um projeto espetacular como esse em mãos, os Wachowski não entregaram o filme que um diretor mais talentoso entregaria, o que significa que Matrix pode ter sido uma jogada de sorte e que nunca mais veremos algo assim dos irmãos.


[divider ="0"]

 
Patreon de O Vértice