Prometheus | Crítica
“Grandes coisas tem pequenos começos” essa frase de David, personagem de Michael Fassbender que ilustrou trailers e cartazes é bem errônea para quem espera que Prometheus seja realmente um inicio pra Alien, fora o que nós já sabemos, Androides, a Weyland e o próprio Space Jockey nada indica que um filme tem relação com o outro e ainda se tivesse, Alien é uma historia muito pequena para ser a Grande coisa do “pequeno começo” que é Prometheus, na verdade Prometheus é muito maior do que Alien para o bem e para o mal.
Em primeiro lugar eu não sou um fã da quadrilogia Alien, gosto apenas moderadamente do segundo filme de James Cameron e com muitas ressalvas do primeiro do próprio Ridley Scott, que volta ao mesmo universo em Prometheus. Pra mim os primeiros filmes funcionavam melhor 20 anos atrás e envelheceram muito mal, já os dois últimos são as únicas manchas na carreira de dois de meus diretores favoritos, David Fincher e Jean Pierre Jeunet.
Aqui em Prometheus ao menos temos uma personagem mais simpática do que a Ripley de Alien, ainda que cheia de falhas em sua composição a Dra. Elizabeth Shaw é carismática, forte e é interpretada pela Noomi Rapace, que sejamos honestos, é uma atriz incrível, mesmo eu tendo dito antes que a Lisbeth Salander de Rooney Mara é melhor.
Mas embora Noomi Rapace faça um trabalho incrível, o androide David rouba o filme, além de Michael Fassbender interpretar maravilhosamente bem o personagem, ele é o único da equipe que não é extremamente óbvio, suas razões e seu lado na história nunca está definido, alias, nem mesmo no fim da projeção você tem todas as respostas sobre o que motiva David.
A propósito, não dar as respostas é um dos maiores problemas de Prometheus, o filme deixa muitas pontas soltas, existe é claro um gancho enorme ao final do filme que pode levar a uma nova história, que Scott já está preparando enquanto escrevo esse review, mas convenhamos com o fim do filme é bem fácil imaginar que Prometheus 2 vai ser um filme de 5 minutos se a história continuar seguindo de onde parou.
Contradições na trama também fazem um pouco feio, cristianismo e seu criacionismo tentam ser compatível com Darwin e o evolucionismo aqui e faz com que nenhuma teoria seja na verdade aceitável, uma ideia mais interessante para o filme seria imediatamente descartar ambas.
Uma leve sugestão de ateísmo é imediatamente rebatida pela protagonista usando um argumento fraquíssimo “Você já pode tirar a cruz de seu pai.” uma frase que remete ao cristianismo seguido pela Dra. Shaw que usa um crucifixo no pescoço e obviamente ao criacionismo, logo depois de descobrir quem na verdade criou a vida humana. Uma frase como essa não pode em nenhum mundo lógico ser respondida com um “Mas quem criou eles?”. Isso soa como uma tentativa de Scott acalmar os ânimos religiosos que poderiam surgir contra o filme ou mostrar que a personagem principal é burra e contraditória em um nível mais complexo do que merece a minha atenção no momento.
Ao inicio eu pensei que o fato de rebater o ateísmo era uma tentativa de Scott ser populista, mas depois repensando o filme vários fatos indicam uma metáfora cristã em Prometheus, numa sociedade avançada a ponto de descobrir a real origem da vida na Terra é difícil compreender como o Cristianismo ainda existe, especialmente depois que o Cristianismo é provado errado durante a projeção, mas ainda assim o filme se passa durante o natal e a nave dos engenheiros estava programada para ir a Terra “um pouco mais de 2000 anos atrás” e no fim a Dra. Shaw data o filme como “Este é o primeiro dia do ano de nosso senhor de 2094”. Alguma relação implícita a Jesus está por vir no próximo filme? Se sim parabéns Scott, mas você deveria dar algo mais a ser discutido e não hipóteses escondidas que parecem forçar a barra dizer que estão lá, se não é a falta de um universo ateu mesmo depois de conceitos como criação genética e de Terra-Formação são aceitáveis, for apenas um modo de não fugir do lugar comum, então Shame on you! Mas o erro de ver exploradores que estão em missão para provar que quem nos criou não foi Deus comemorando o natal é tão óbvio que não pode ser de fato um erro.
Não chega a existir um furo de roteiro propriamente dito, afinal você pode simplesmente dizer que os personagens são retardados mentais que fazem idiotices quando menos se espera, como brincar com uma cobra alienígena quando antes se estava com medo até de uma porta e as pontas soltas ainda podem ser respondidas, mas além de frustrante é apostar demais no sucesso de um filme que gastou muito e almeja um publico que busca um filme mais intelectual nos cinemas, mesmo que esse publico não encontre totalmente isso aqui.
Porém se o filme falha em alguns aspectos ele é soberbo em outros, como o trabalho visual, a tecnologia semi-orgânica dos Engenheiros é muito bem imaginada e a tecnologia iluminada e “iluminadora” da Weyland Corp. é linda, ainda que seja um pouco contraditória com a tecnologia da série Alien que é milhões de vezes inferior mesmo estando alguns anos no futuro comparada a Prometheus e dizer que isso é porque a Nostromo é uma nave cargueira é tentar justificar algo injustificável, já que a Nostromo é a nave do primeiro filme e nos 3 filmes seguintes a tecnologia não parece ter avançado em nada, mesmo dentro de uma nave militar.
A fotografia do filme ainda é eficiente em seus dois principais objetivos, o de mostrar a grandeza do universo e do objetivo dos tripulantes da Prometheus e isso é muito bem aplicado a grandiloquência que todos quadros evocam é ameaçadora. Seu segundo objetivo é drenar as cores no mundo onde eles encontram a nave dos Engenheiros, assim podendo iluminá-la com a tecnologia e as cores da Weyland, como eu já mencionei antes. Não que a tecnologia semi-orgânica dos Engenheiros seja ausente de luz, mas permanece desligada até boa parte do filme ou mais especificamente até David ligar o grandioso mapa holográfico que deve ficar lindo em 3D. (Pois é, não assisti o filme nesse formato.)
Apesar de ser uma piada fácil e por isso já me desculpo por ela, mas é o que de fato acontece, o maior problema de Prometheus é prometer demais e não cumprir. A ideia de que o filme seria uma obra inteligente que é mostrada tanto por trailers, mostrada pelas entrevistas de Ridley Scott e pelo próprio inicio do filme não é o apresentado nas duas horas de projeção. Como os questionamentos do filme são limitados e como as poucas respostas obtidas são óbvias e preguiçosas o jeito é correr para o lado do Filme de “terror no espaço”, nesse caso o filme é bem executado apesar de ter clichês terríveis do gênero, mas só o fato de ser bem executado faz dele melhor do que praticamente qualquer coisa de terror que tem saído ultimamente. Mas todos esperávamos mais do filme.