Biblioteca do Eden - Musashi
A muito tempo eu vinha trazendo a intenção de adicionar Musashi à Biblioteca do Eden, mas por receio de não dedicar tempo suficiente acabava adiando. Resenhar ou comentar Musashi é uma grande responsabilidade, não só pela obra, mas pela trajetória do homem que deu origem ao livro.
O livro é uma narrativa romanceada da história de Miyamoto Musashi, em dois volumes, escrito em 1935. Foi publicado em um formato semelhante aos nossos folhetins, em um jornal japonês. Devido à esse formato de publicação cada capítulo é dividido em partes, de três ou quatro páginas cada. Não sei se pela narrativa, pelo formato de publicação, ou simplesmente pelo autor ser japonês, mas não consigo ler Musashi sem pensar que ele é um ancestral dos mangás. E pelo jeito não sou o único, já que o livro deu origem ao mangá Vagabond, sem comentar as inumeras adaptações para o cinema.
Miyamoto Musashi viveu em um período de transformações do Japão feudal. Em particular participou da batalha de Sekigahara, que deu início à era Tokugawa, o último xogunato do Japão.Os samurais estam perdendo o status de nobreza que possuiam anteriormente, enquanto a classe de mercadores começa a se tornar cada vez mais importante. As estradas se tornam abarrotadas de rounins, samurais sem senhores, um dos quais era Musashi. Apesar das escolas de esgrima tornarem-se cada vez mais comuns, Musashi foi um auto-didata, que criou o estilo Niten-ryu, ou técnica das duas espadas, que descreve no livro dos cinco anéis. Um dos pontos curiosos do livro dos cinco anéis é quando Musashi anuncia: "Um homem pode derrotar dez, portanto dez podem derrotar cem, portanto um pode derrotar cem". Isso parece delírio de um espadachim que passou tempo demais vivendo sozinho numa caverna, onde ele escreveu o livro, mas acontece que Musashi realmente derrotou sozinho cerca de cem samurais, com arqueiros e mosqueteiro inclusos, de uma das principais escolas de esgrima da época.
O livro de Yoshikawa romanceia a trajetória de Musashi desde a batalha de Sekigahara até seu duelo com Sasaki Kojiro. Como um bom romance, o livro descreve vários aspectos da vida pessoal de Musashi. Sua relação com seus discípulos, seu romance com Otsu, sua relação com seus amigos e mestres de infância. A narrativa é magnífica, e, novamente, lembra um mangá, com arcos fechados e uma trama que corre ao fundo com amores, amigos, intrigas e vilões recorrentes. Como um romance, e novamente lembrando um mangá, alguns pontos da narrativa são fantasiados, como por exemplo um salto de quase cinco metros que Musashi dá para fugir de uma multidão.Mas o incrível é que as partes que parecem mais fantásticas, os duelos, realmente aconteceram, e existem registros históricos para comprová-los. Inclusive o duelo de Musashi contra uma centena de espadachins.
Musashi conta a história do maior espadachim de todos os tempos, e portanto deve ser lido pelos amantes de artes marciais; conta um romance que enfrenta diversas dificuldades, e portanto deve ser lido pelos de coração romântico; conta as transformações pelas quais passou o Japão durante seu último xogunato, e portanto deve ser lido por quem aprecia a cultura japonesa; conta uma aventura com duelos épicos, e portanto deve ser lido por quem um dia já gostou de sessão da tarde. E se você não se encaixa em nenhuma dessas categorias acima, ainda assim deve ler, simplesmente por ser um livro muito bom.