Vingadores: Era de Ultron | Crítica

A cada tradução parece que Os Vingadores está perdendo mais e mais os seus artigos, A Era de Ultron virou apenas Era de Ultron e a própria equipe perdeu seu “Os”, quem sabe que se esse poder de resumo fosse aplicado ao longa nós poderíamos dizer que esse sim seria o grande filme de quadrinhos de todos os tempos, infelizmente há um pouco de excessos  no roteiro de Vingadores: Era de Ultron que não deixa o filme ganhar esse título, mas sinceramente, mesmo com os problemas passa bem perto.


O primeiro ato, ou menos, o primeiro momento do filme é não menos que espetacular e mostra uma extensão do que vimos no primeiro longa, vemos uma equipe coesa e sincronizada não só atacando a Hydra, mas detonando ela. Os Vingadores fazem a equipe de Coulson em Agents of S.H.I.E.L.D. parecer o sinônimo da incompetência.


Esses primeiros minutos são a síntese do que significa “Os Heróis mais Poderosos da Terra”, acabando com uma ameaça que se estende há filmes e séries inteiras e através dos séculos até em um só ataque, essa primeira cena do filme além de tudo já mostra o nível da ação que teremos por todo o longa, um nível inigualável.


Os problemas começam depois.


Certos elementos do filme são completamente desnecessários, um exemplo disso são os gêmeos Maximoffs, que não acrescentam em absolutamente nada na trama do filme, o filme com eles ou sem eles seria exatamente o mesmo, talvez seria até um pouco melhor sem eles, porque o tempo que o longa leva para desenvolve-los poderia ser usado para apresentar melhor diversos conceitos que importam no final.


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E não me levem a mal, eu amo a Feiticeira Escarlate e acho Mercúrio um ótimo personagem subaproveitado nos quadrinhos e a encarnação de ambos nas telonas é supercool, especialmente a Feiticeira, mas eles são apenas isso para o longa, dois personagens legais que estão lá porque Joss Whedon ou Kevin Feige quis, mesmo toda a parte da manipulação mental da Wanda poderia ser feita de forma mais simples, afinal, eles estavam usando a joia do infinito da mente todo o tempo.


Por falar nisso, finalmente as joias do infinito são nomeadas dessa forma e sinceramente, a razão para isso acontecer no filme é mais um problema, todo o passeio de Thor em paralelo a tudo que está acontecendo é talvez o maior ponto fraco desse segundo Vingadores, claramente dá pra ver que essa história foi retalhada na ilha de edição e ela não só não faz sentido e corta o ritmo do filme, mas ela parece simplesmente estúpida.


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Por outro lado, Thor é um dos melhores personagens para certos momentos cômicos do filme, todo o lance com o seu martelo, sobre quem consegue levantá-lo e sobre o “elevador digno” são de fazer qualquer um rolar de rir, isso sem falar nas piadas sobre o Hulk.


Mas Thor sempre teve a veia cômica bem ressaltada dentro da equipe e no mundo normal em si, mas o personagem que mais evoluiu nesse longa, pasmem, é o Gavião Arqueiro, que deixou de ser o inútil disfarçado do último filme, para se tornar o coração da equipe auto disfarçado de inútil nesse, quando Joss Whedon falou que ele ia dar uma grande trama para o personagem ele não estava brincando.


Homem de Ferro, Capitão América, Viúva Negra e o Hulk são os mesmos grandes personagens que nós já conhecemos e vimos em outros filmes do estúdio, sim, o Tony Stark ainda rouba a cena, mas dessa vez ele parece mais contido dentro da equipe do que no primeiro filme que era quase “Homem de Ferro e seus amigos”, mas apesar dele roubar a cena, do Thor ser muito engraçado e do Gavião Arqueiro ser o coração da equipe, é o Hulk que é a figura mais trágica e sombria da trama e seu personagem tem alguns dos melhores momentos do filme, o que é quase um repeteco do primeiro longa, mas se antes Banner já se sentia mal por se transformar no Hulk, dessa vez ele fica destruído, especialmente depois DAQUELA cena...


A cena com a Hulkbuster contra o Hulk é simplesmente a porradaria em CGI mais linda do cinema, é engraçada, problemática para os personagens e de tirar o fôlego e ainda é interessante ver que a armadura que Banner e Stark criaram realmente aguenta o tranco contra o monstrão, mesmo que seja usando peças sobressalentes cada vez que uma se estraga.


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Enfim, claramente não precisamos dizer que as cenas de ação são impecáveis, não há do que reclamar nesse caso, tudo funciona muito bem, desde esteticamente até em ritmo, mesmo o plano final de Ultron cria uma situação realmente tensa para os nossos heróis, uma situação que não só lida com a destruição de uma cidade, mas com a extinção da vida na terra.


O roteiro também tem enormes qualidades, alguns diálogos e situações montadas no texto são sacadas geniais que já fazem parte do estilo Joss Whedon de escrever, o texto ainda dita um ritmo invejável para um filme com tanta coisa para resolver, mas sinceramente, trabalha muito mal a forma como o desenvolvimento da trama caminha, talvez menos ritmo fosse um mal necessário nesse caso. Um exemplo disso é que o Ultron é construído em aproximadamente cinco minutos no longa, sim, esse é o tempo que leva de Tony Stark pensar na inteligência, convencer Banner a ajuda-lo e a fazer de fato o ser, que no minuto seguinte já se rebela e se torna a ameaça principal do filme, sim, essa parte importante da história é mostrada mais rápida que o Mercúrio.


Algumas coisas ficam devendo também em outras áreas, um exemplo é a interação entre os novos personagens, a Feiticeira Escarlate só interage de fato com o Gavião Arqueiro, assim como o seu irmão em uma escala ainda menor, mas talvez mais divertida. Visão, que deveria ser filho de Tony Stark e o ex-Jarvis, sequer troca uma palavra a sós com o Homem de Ferro, de fato, se eles trocam mais de duas frases o filme inteiro é muito, já que Visão parece ter ficado mais amigo de Thor do que de qualquer outro ali o que não faz lá muito sentido. Ultron, que tem realmente mais motivos de interagir com Stark e com os gêmeos, se limita a realmente interagir mais verdadeiramente com esses e só, com exceção de uma ou outra cena com a Viúva Negra, ele parece só um vilão genérico para todos os outros, diferente do Loki que se certificou de atacar cada um da equipe pessoalmente.


Mas já que eu mencionei Ultron e Visão, eu preciso dizer que esses dois são duas das melhores coisas no filme, especialmente o primeiro. Ultron é facilmente um dos melhores vilões que a Marvel já fez e que desfaz completamente aquela noção de inteligência artificial fria que o cinema têm, como Ultron pegou um pouco da personalidade de seu pai para existir, ele acaba sendo uma Inteligência Artificial engraçada, piadista e completamente louca e surtada, já o Visão, com todo o poder quase inesgotável da Joia da Mente, é um ser quase etéreo e inocente, mas absurdamente poderoso que tem noção do perigo que a própria humanidade representa e tem noção de sua fragilidade e acha tudo isso bonito, o Visão é o mais perto que Vingadores jamais chegará de ser poético e surpreendentemente isso funciona e olha que esse elogio vem de alguém que odeia o personagem original, que parece um robô carnavalesco.


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Vale notar alguns pontos bons e ruins menores no filme, um dos pontos legais é que esse filme por mais contido que seja dentro de sua própria história e mesmo em seu pior momento (a viagem do Thor) serve para dar uma liga aos outros filmes da Fase 2, até mesmo um pequeno ensaio de menção a Guardiões da Galáxia e também serve pra provar que Homem de Ferro 3 além de ser o pior filme da Marvel, não é apenas inútil, mas é contradito nesse longa.


Outro ponto, esse ruim, é que a tal MORTE de um personagem importante do filme que Joss Whedon tanto disse soa arbitraria e forçada, e claramente o desperdício de um bom personagem que poderia render muito mais no universo Marvel. A morte de Vingadores: Era de Ultron soa como aquelas mortes de personagens que acontecem nas HQs para vender mais edições, o problema é que aqui dificilmente o personagem vai reviver.


Sinceramente eu adoro Joss Whedon e ele já provou que sabe como ninguém dirigir um épico de ação, mas eu estou ansioso para ver os irmãos Russos dirigindo um Vingadores com um foco maior no desenvolvimento da trama do que na velocidade em que ela é contada.


Talvez o primeiro Os Vingadores ganhe desse filme pelos quesitos emoção, novidade e empolgação, mas quando a gente tenta analisar mais calmamente, ambos os filmes são imperfeitos e ambos são sensacionais no mesmo nível, talvez tudo dependa do seu nível de empolgação com a obra e o que ela representa, se seu nível de empolgação for baixo, talvez Vingadores: Era de Ultron seja só um filme divertido, porém mediano de super-herói, se  seu nível de empolgação dor parecido com o meu, Vingadores: Era de Ultron, apesar de todos os defeitos, é uma daquelas obras imperdíveis do cinema pop.

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