Penny Dreadful - A série até aqui


Os Clássicos do Terror estão aqui!



Sim! Estamos juntos em mais uma série! E embora a Premiere da Segunda Temporada já esteja disponível no serviço On Demand da Showtime, decidi que, assim como fiz com Game of Thrones, Penny Dreadful merecia uma prévia antes de embarcarmos na nova temporada. E, como a estreia oficial da segunda temporada está próxima – no próximo domingo, 03 de maio – nada melhor do que relembrar um pouco das surpresas que tivemos na primeira temporada.


Penny Dreadful chegou em maio do ano passado, como uma das surpresas do Midseason/Summer Season – dependendo do seu calendário – e simplesmente conquistou o público.


O título em si já é um convite para assistir a série. Na verdade, a Showtime fez uma pesquisa realmente extensiva na construção e realização deste projeto e, combinar isso com um elenco classe A, resultou num sucesso instantâneo.


O título é uma referência as Penny Dreadfuls, publicações de terror vendidas na Inglaterra Vitoriana, por um penny (um centavo). Com tramas simples, regadas a sangue, genuínas publicações de terror para quem gostava do gênero. Foi nas páginas deste tipo de publicação que surgiu o personagem Sweeney Todd, hoje considerado um clássico da literatura do terror. Este tipo de publicação surgiu na época em que o Reino Unido vivia a era da industrialização (situação mencionada na série). As mudanças que a sociedade vivenciou naquela época influenciaram a arte, a literatura e o teatro, e os tornaram opções de entretenimento.


A série estreou no dia 9 de maio na Showtime OnDemand e em seguida no dia 11 do mesmo mês já na Showtime. Chegou ao Brasil, como mais uma das aquisições da HBO, no dia 13 junho. A primeira temporada da série conta com oito excelente episódios, o que significa que você pode fazer uma maratona da primeira temporada e começar a segunda junto com todos nós.


A trama da série se origina num terror mais similar ao valorizado pelo Romantismo – e também por alguns poetas Realistas – que vemos nos poemas de Shelly ou Baudelaire (neste último, vide Les Fleurs du mal). Traçando uma trajetória entre fantasia e terror gótico, fazendo jus às fundamentações estético-literárias que a série usa, seguimos com a mitologia do vampiro – com influências de vários dos ramos desta mitologia – como base, usando livremente referências de vários outros clássicos da literatura.


Situada em 1800, a série não se apoia em uma única trama. Cada personagem tem sua história, que é desenvolvida à parte. Em determinados momentos, elas se cruzam e influenciam umas às outras. No entanto, continuam independentes com certa flexibilidade e independência. O passado de cada personagem é revelado aos poucos, sem pressa, ao longo da temporada até o último episódio, outro ponto positivo da série.


A primeira – e mais abordada – trama é a de Sir Malcon Murray, interpretado por ninguém menos que Timothy Dalton (um dos James Bond), e Vanessa Ives, a Bond Girl de nossa geração, Eva Green. Ele é um explorador que passou mais tempo na África que ao lado de sua família na Inglaterra. Quando a série tem início, Sir Malcolm está tentando localizar sua filha Mina (Olivia Llewellyn), sequestrada por uma entidade do mal que, pelas características apresentadas, assemelha-se a um vampiro. Mina é personagem extraída do Drácula de Bram Stoker.


Após o sequestro de Mina e a morte de seu filho, Sir Malcolm acolhe Vanessa, a melhor amiga de sua filha. As duas cresceram juntas, tornando-se quase irmãs. No entanto, quando Mina fica noiva do Capitão Branson (Joseph Millsonde The Sarah Jane Adventures), Vanessa começa a sentir inveja do futuro da amiga, e ela acaba por se envolver com o noivo de Mina, arruinando literalmente todas as relações acima citadas (hahaha).


O noivado é desfeito, Mina é mandada para longe e Vanessa, a partir do sentimento de culpa, desenvolve um trauma que a leva a ser internada em um hospício. Apresentando uma espécie de poder mediúnico e de clarividência, Vanessa é capaz de incorporar os mortos e outras criaturas, como a Deusa egípcia Amunet. Em função disso, ela é considerada louca. Após um tratamento desumano no hospício, ela volta para casa, onde seu encontro “íntimo” – para dizer o mínimo – com o mal em pessoa acaba por levar sua mãe à morte.


Quando Sir Malcolm percebe o valor que Vanessa poderia ter em sua busca por Mina, ele lhe pede sua ajuda, mesmo tendo planos mais “nefastos” para essa associação. No inicio da série, vemos a dupla recrutar Ethan Chandler (Josh Hartnett), um americano que viaja pela Europa apresentando-se como o “gatilho mais rápido do Oeste”. Suas habilidades fizeram dele um ótimo integrante para o grupo. Com um passado misterioso – que inclui uma relação mal resolvida com o pai – Ethan conhece e se apaixona por Brona Croft (Billie Piper, a eterna Rose Tyler de Doctor Who), uma prostituta irlandesa que sofre de tuberculose.


Outra adição ao grupo é um jovem Dr. Victor Frankenstein (Harry Treadaway), personagem extraído da obra de Mary Shelley. Jovem, arrogante e com interesse apenas em seus trabalhos e suas pesquisas nas “áreas cinzas”, em sua busca para entender a morte. Ele mantém em segredo o fato de que foi capaz de dar vida a um corpo morto. Sua criatura se chama Caliban, que se comporta e se expressa como um personagem Shakespeariano. Desprezado por Victor, Caliban encontra refúgio no teatro, onde é acolhido por Vincent (Alun Armstrong). Caliban, numa mistura de sede por vingança e para contornar a solidão de sua imortalidade – nem confirmada nem negada ainda – exige que Frankenstein crie uma noiva para ele.


Nesse meio tempo, Vanessa, Brona e Ethan entram conhecem um belo e misterioso membro da alta sociedade de Londres, ninguém menos que Dorian Grey (Reeve Carney). Embora a história dele não tenha sido tão detalhada nesta temporada, ninguém realmente se sentiu sem referências, já que o personagem é um clássico da literatura, inspirado numa das obras-primas de Oscar Wilde, O Retrato de Dorian Grey. A figura que nos é construída dele é de um jovem solitário e aberto a experiências – sexuais em sua maioria – que o tirem da monotonia. Obcecado por retratos e pinturas, Dorian tem à sua disposição um fotógrafo, que captura a imagem daqueles que ele conhece e aceitam “posar” para as fotos. Além disso, as paredes de sua casa estão repletas de pinturas de pessoas, a maioria desconhecida. Como era de se esperar, o quadro mais importante está oculto.


Não esqueci de Sembene! O criado africano de Sir Malcolm é outro personagem que também não teve sua história revelada nesta temporada. Embora demonstre sua lealdade para com seu mestre, Sembene é capaz de formar opiniões próprias sobre as pessoas que o cercam e as situações nas quais se envolve.


Ao longo da história ainda somos apresentados ao Professor Van Helsing, outra figurinha de Drácula, que faz uma breve participação na série. Aqui ele é um amigo do Dr. Frankenstein, a quem ele revela sua luta contra os Vampiros.


Uma outra história que é introduzida na primeira temporada, mas que somente será trabalhada quando a série retornar com novos episódios, é o massacre que vem ocorrendo em Londres. Alguém anda matando de forma cruel e animalesca os moradores de Londres. A polícia não tem pistas que possam levar ao responsável, o que levanta a suspeita de que Jack, o Estripador, tenha retornado ou que algum outro criminoso muito mais desumano esteja solto nas ruas.


Quem, assim como eu, cresceu com os épicos trabalhos de Alan Moore, infelizmente arruinados pelo cinema – neste caso em particular, me refiro A Liga Extraordinária – certamente nota as similaridades entre a graphic novel e a série. E se você procura uma série com boa qualidade, que não consuma muito do seu tempo, já que a primeira temporada só tem oito episódios, entre estes duas sequências de possessão com Eva Green em atuações dignas de um Emmy!


Bom, acho que não sobra muito para dizer. A série é um tributo legitimo ao terror literário e seus fãs, um estilo que havia perdido espaço na TV e no cinema, especialmente desde que tudo aquilo que tem um real contexto – ou requer algum trabalho para se compreender – caiu em desuso, você precisa conhecer Penny Dreadful. Garanto que você não vai se arrepender!

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