Fansubs e o mercado brasileiro de Animes e Mangás

Os fansubs fazem parte da cultura dos animes e mangás no Brasil. Graças a diversos grupos, muitos dos fãs das animações japoneses tiveram acesso a milhares de obras nos últimos anos. Porém, até aonde os fansubs podem ajudar a expandir os produtos oficiais de diversos animes no Brasil e até onde ele pode atrapalhar? Atualmente o conteúdo disponibilizado de forma gratuita na internet esta afetando na chegada de novas obras no pais.


O objetivo desse artigo é mostrar os prós e os contras dos fansubs e traçar um paralelo com parte do atual mercado brasileiro de animes e mangás.

Uma breve história do inicio dos fansub no Brasil


Não existem dados 100% certos sobre a origem dos fansubs de animes no Brasil. Segundo a Wikipédia, o primeiro grupo de fansub brasileiro dedicado a animes foi o Orcade, criado em 1990 pelo jornalista Sérgio Peixoto, e as séries, todas em VHS, eram apenas trocadas entre amigos.


Em 1996 surgiram a BaC (Brasil Anime Club.), a Lum’s Club e o Shin Seiki Anime Clube, que começaram a comercializam das fitas pelo preço de custo. Mas foi graças à internet que a quantidade de fansubs no Brasil aumentou consideravelmente a partir dos anos 2000, aonde surgiram diversos grupos, alguns que atuam até hoje.


Como os animes estavam começando a ter uma relativa baixa na TV aberta, a melhor formar de conhecer as novas séries que estavam estreando no Japão era através de fansubs. Os novos episódios ou séries inteiras eram disponibilizadas para download de forma gratuita, mas quem quisesse ajudar com os custos do site podia contribuir com pequenos valores.


Graças aos fansubs, obras como Naruto, Bleach, One Piece, Fullmetal Alchemist, entre muitas outras, ganharam fama antes mesmo de chegarem a TV aberta ou a cabo. Além de trazer diversas animações que foram lançadas apenas no Japão, como Ovas ou especiais feitos para a TV.


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A ameaça do Crunchyroll e a queda na qualidade



Desde os primeiros rumores sobre a chegada do Crunchyroll no Brasil, começaram a surgir diversos boatos de que o serviço iria exterminar os fansubs. Mas mesmo com a chegada dele, a cultura dos fansubs se manteve bastante forte em nosso país e para mostrar que o serviço era bem vindo, muitos grupos abriram mão de legendar algumas obras que estavam sendo exibidos no catálogo do Crunchyroll, mas outros começaram a tratar o serviço como um tipo de inimigo.


Porém, a correria do dia a dia e a grande concorrência entre os diversos fansubs existentes começou a fazer com que a qualidade das legendas disponibilizada pelos mesmos decaísse muito.


Mesmo que os episódios sejam disponibilizados gratuitamente e seja uma atividade feita por fans, a briga para disponibilizar primeiro que o “concorrente” começou fazer com que muitos aderissem a política de apenas legendar a fala dos personagens e extinguir as notas de explicação e karaokês (legendas das musicas de abertura e encerramentos).


Mas o maior problema foi que a legenda disponibilizada por vários fansubs começaram a chegar ao público muitas vezes sem uma revisão adequada, o que ocasionava em deixar passar erros de português e recentemente gírias e frases tiradas de memes da internet começaram a ser adicionadas na legenda.



Fansub/Scan x Editoras nacionais



Apesar das atividades de tradução e adaptação dos fansubs aproximarem o público brasileiro da língua japonesa. Devemos lembrar também que existem outras versões para o conteúdo traduzido e que por este motivo, os nomes e termos utilizados na legenda dos fansubs não deve ser considerada como a única tradução/adaptação correta.


Recentemente a editora JBC passou por uma série de problemas com o público para explicar as traduções e adaptações que foram feitas no mangá Magi – O Labirinto da Magia. Muitos fãs do mangá que acabaram conhecendo a obra através do anime (que foi o meu caso) ou pela versão de scans, não estavam compreendendo os motivos que levaram a editora a realizar essas modificações.


Dentre as diversas queixas do público, uma delas era referente à modificação de nomes e termos relacionados ao Império Kou (que ficou como Império Huang na edição da JBC) e muitos diziam que não condizia com o que era pronunciado na versão animada ou com a versão do mangá em outros países.


Segundo a editora os nomes dos personagens, relacionados a este império, veio a partir da fala da língua chinesa (mandarin) ao kanji (escrita japonesa que surgiu na China). Outro detalhe, é que a autora da série, Shinobu Outaka, confirmou nos prefácios do mangá que o Império Huang tinha referencias a China antiga.


É interessante saber também que a quando um japonês vai falar alguma palavra na língua chinesa, ele automaticamente irá adaptar aquela palavra para o japonês. Isso ocorre devido a uma série de fatores relacionados a fonética, que dificultam ele de falar a palavra em Mandarin.


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Porém acaba surgindo à questão: Mas e a versão da legenda apresentada no anime pelo Crunchyroll (serviço licenciado), não é valida?


Em termos gerais, a versão de nomes ou termos legendados (ou dublados) no anime só pode ser considerada apenas para o anime. Isso ocorre devido o grupo (que for dublar ou legendar) negociar apenas com o estúdio japonês que realizou a animação.


O mesmo acontece quando a editora brasileira negocia o mangá diretamente com a editora japonesa (e muitas vezes com o próprio autor), pois qualquer mudança nos nomes e termos (e até as capas dos volumes) tem que ser autorizados em comum acordo entre nos e eles.


Por esse motivo, muitas vezes pode existir essas discrepâncias entre os nomes e termos utilizados entre a versão do mangá e do anime que chegam a nosso pais.



O atual cenário da pirataria de Animes


Existem atualmente diversas estatísticas globais com números de downloads piratas para filmes, séries e músicas, porém, não existe em si uma estatística total comparando dados de animes e mangás que forma pirateados em todo o mundo nos últimos anos.


Segundo dados recentes do governo japonês, só os sites piratas chineses causaram prejuízo em torno de 560 milhões de yens (mais de 4 milhões de dólares e nem queira saber quantos reais com o preço atual dele...). O governo japonês também elaborou uma lista dos sites (considerados como) piratas e que possuem um grande volume de acessos, nele existem diversos sites brasileiros com grande fama entre os fãs animes.


Nos últimos anos existe uma forte pressão do governo japonês para que países do ocidente façam algo para parar a disseminação da pirataria de animes, que até alguns anos atrás no Brasil era alvo de vendedores de rua que lucravam com um produto que ironicamente levava a frase “De fã para fãs – Não compre ou alugue”.


Atualmente no Brasil ainda existem diversos grupos piratas que lucram na venda de DVDs pela internet ou em eventos de anime. Os valores cobrados por estes grupos na venda de seus produtos muitas vezes seriam o suficiente para pagar a mensalidade de serviços licenciados, como Crunchyroll ou mesmo a Netflix, por diversos meses.


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